Entrevista com a Missionária Kelem Gaspar
MiAMe –
Temos certeza que muitas vezes já foi perguntado sobre como iniciou sua
caminhada neste campo e não podemos deixar de perguntar – lhe. Conte –
nos como foi que você “descobriu” que tinha um chamado missionário e se
possui alguma impressão diferente daquela que tinha no inicio do
chamado?
KG:
Não aconteceu nada de sobrenatural no início da minha chamada, não vi
um anjo, não ouvi uma voz, não recebi uma profecia, nada disso. Eu
estava assistindo um culto, em que uma missionária pregou e falou sobre
os desafios da obra de missões, essa palavra entrou no meu coração e eu
tomei uma decisão: sacrifiquei meus projetos pessoais aos pés de Cristo e
ofereci a Ele minha vida para seu serviço. Foi a melhor decisão que
tomei em minha vida, Deus é absolutamente digno de confiança. Como a
missionária trabalhava com índios, naturalmente foi o povo que me
interessou também e, a partir desse momento, passei a me preparar para
servir a esse povo.
MiAMe: Fale-nos
da sensação de estar pela primeira vez no campo missionário e da
sensação que foi “voltar a sua realidade”, o que muda nessa primeira
vez? E essa mudança é passageira ou ficou marcada para a caminhada de
missões?
KG:
É uma mistura de sentimentos muito grande: medo do desconhecido,
alegria em estar finalmente no lugar que Deus havia preparado para mim,
saudades de casa, desejo de colher logo os primeiros frutos, enfim, não é
fácil lidar com esse turbilhão de sentimentos. Tudo era diferente do
que eu conhecia, tudo era novo, mas eu tinha uma certeza: eu estava ali
para servir, não para ser servida. Eu não era a grande mãe branca que
havia chegado com todas as respostas. Eu desenvolvi um grande respeito
pelo povo e por sua maneira de viver, trabalhávamos juntos, comíamos
juntos, tínhamos comunhão, tentei me adaptar ao máximo a essa nova
maneira de viver. Readaptar-se à nova realidade depois da volta pra casa
também não foi fácil. O que tornou a situação mais suportável foi a
íntima compreensão de que nossa motivação está calcada no compromisso
com Cristo e no amor às almas perdidas, e, diante disso, nenhum
sacrifício deve ser considerado grande demais.
MiAMe:
Sabemos que o missionário vai se deparar com muitas situações adversas,
onde com certeza mexerão com suas emoções. Neste momento, como é lidar
com esses extremos e seguir com a missão dada por Deus?
KG:
Realmente são muitas as situações adversas. As crises emocionais são
constantes. O missionário precisa entender acima de tudo que é um
servidor e que não está na missão porque foi forçado; a decisão de
servir foi tomada livre e conscientemente e, agora, espera-se dele que
faça todo o possível por amor a Cristo e ao povo. Deus não prometeu
conforto, não prometeu sucesso e nem ofereceu garantia de retorno, mas
Ele assegurou estar conosco sempre, até o fim. Essa certeza nos sustenta
e nos faz seguir adiante.
MiAMe: Muitas
pessoas sentem o chamado missionário, porem não sabem como proceder,
muitos pensam que é pegar um avião e ir para áfrica, outros, irem para
nordeste, norte, sudeste, enfim… Mas como você define missões? São
lugares específicos ou são formas específicas, como: O sopão na
madrugada, visita a hospitais e etc?
KG:
Deus precisa de pessoas em todas as posições, e para Deus missões e
evangelização são a mesmíssima coisa, ambos tem como objetivo levar as
almas a Cristo. O cristão não pode ser apático ao ponto de não fazer
nada diante da grande necessidade mundial.
Sou
favorável à ideia de que todos tem uma chamada tripla: todos devem orar
por missões, todos devem investir financeiramente de alguma forma e
todos devem ser testemunhas vivas de um Cristo vivo, ou seja,
compartilhar o evangelho em todas as oportunidades possíveis. As almas
têm o mesmo valor em qualquer lugar do mundo. Conheço pessoas que estão
aguardando para ser uma bênção quando finalmente chegarem ao campo
transcultural, porém enquanto esperam não produzem nada. Não acredite
nesse tipo de chamada.
Você
quer ser missionário? Ótimo, agora vá ler biografias de missionários,
vá estudar línguas, vá fazer um curso que lhe ajude no campo, tire seu
passaporte, levante um trabalho na igreja local, ganhe almas, discipule,
crie um novo projeto, dê frutos, enfim, faça a sua parte. Lembre-se,
Deus faz o impossível, o absurdo, não.
MiAMe: Missões,
um lindo chamado, o qual precisa de compreensão, preparação e muita
força de vontade. Por isso, gostaríamos de saber qual a maior decepção
que o missionário pode ter no campo? E o que já a deixou surpreendida no
campo missionário, segundo sua visão e experiência?
KG:
Ser abandonado é um medo constante, tanto financeiramente, quanto
espiritualmente ou emocionalmente. Existem muitos pastores não
alcançados, que não têm responsabilidade, compromisso e amor pela obra e
pelos obreiros. Esses pastores veem os missionários como pessoas de
segunda classe e passam essa visão para a igreja; é por isso que muitos
missionários recebem de oferta ventilador sem hélice, geladeira sem
motor, ferro elétrico sem resistência e a “clássica” sacola com roupas
usadas. Precisamos mudar a nossa visão e ver o missionário como ele
realmente é: um embaixador do Reino.
MiAMe: Como
os índios, os quais você já evangelizou, assimilam a vida cristã em sua
cultura? Como foi este choque cultural para quem queria levar Jesus
para um povo que luta por sua própria cultura, que é diferente de quase
80% ou até mais em seu país?
KG:
Precisamos de atenção e de muita dependência de Deus para entender o
que implica em salvação e o que não implica. O trabalho missionário não é
criar uma filial de sua igreja no campo; a cultura deve ser respeitada
ao máximo e devemos adaptar o que for possível à cultura local e aquelas
questões que implicam de fato em condenação devem ser trabalhadas com
cautela, sempre buscando soluções em oração.
MiAMe:
Compartilhe sobre o projeto que vocês desenvolvem hoje e como as
pessoas que querem participar, de alguma forma, devem proceder?
KG:
Estamos há oito anos no município de Maracanã, interior do Estado do
Pará, na região amazônica. Aqui temos uma creche escola missionária que
atende sessenta crianças carentes da comunidade, onde elas são
alfabetizadas, discipuladas, alimentadas e orientadas diariamente; não é
um trabalho fácil, não temos ajuda da prefeitura e nem de nenhuma outra
organização, mas Deus tem cuidado de nós.
Vivemos
exclusivamente na dependência de Deus, e Ele tem despertado pessoas
para nos ajudar, sem que precisemos sair para pedir nada. Funciona
assim: nós oramos e Ele desperta alguém para que a necessidade seja
suprida. O dinheiro de Deus está no bolso dos crentes. É uma verdadeira
parceria, uma sociedade.
A
única obra que Deus fez sozinho foi a da criação; para todas as outras,
Ele opera no homem e através do homem. Desenvolvemos também um curso de
missões transculturais que prepara jovens missionários para alcançarem
indígenas, ribeirinhos, quilombolas e povos minoritários. Os alunos
aprendem disciplinas missiológicas, ministradas por excelentes
professores, mas não nos esquecemos de também treiná-los para o dia a
dia do campo missionário: eles moram em casas de barro, cozinham a
lenha, comem comidas típicas, enfim procuramos antecipar o cenário que
ele encontrará no campo. Se o aluno não tiver chamada divina e
disponibilidade para sofrer as privações que esse tipo de obra acarreta,
é melhor que ele descubra isso aqui do que depois de ter sido enviado.
Não
é fácil manter esse curso, mas Deus tem cuidado de nós. Além desses
dois trabalhos, desenvolvemos algumas obras missionárias paralelas, como
na “Ilha do Derrubado” (localidade isolada dentro do Município de
Maracanã) e brevemente, no “Ramal da Mina”. Todas essas obras são em
áreas carentes e de difícil acesso, e para todas elas precisamos de
apoio espiritual, emocional e financeiro.
Para aqueles que se sentirem tocados por Deus, podem ajudar de muitas maneiras, como mandar qualquer encomenda para: PA
127, km 39, Ramal Caiacá, 05, Maracanã-Pa. CEP 68.710-000. (podem ser
livros, brinquedos, material escolar, objetos de uso pessoal, material
de escritório, enfim, qualquer coisa que Deus tocar no seu coração) ou se comprometer com uma oferta mensal de qualquer valor, que pode ser depositada no: Banco do Brasil, Ag. 1436-2, conta corrente nº 6993-0 ou Bradesco Ag. 0697, conta corrente nº 523.164-7. Também
podem vir nos visitar ou nos adotar em oração, afinal a obra
missionária nasce de joelhos e é de joelhos que ela se sustenta.
Visite o blog da Missionária Kelem: http://www.missionariakelem.blogspot.com.br/
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