21 setembro 2012

Lição 13 - A VERDADEIRA MOTIVAÇÃO DO CRENTE


Texto Áureo: Mt. 6.6 – Leitura Bíblica: Mc. 1.35-45



INTRODUÇÃO
Existem pessoas que se tornam evangélicas por vários motivos: financeiros, políticos, entre outros. Os discípulos perguntaram a Jesus o que eles receberiam por terem deixado tudo para segui-LO (Mt. 19.27). Paulo atestou que muitos seguem a Cristo por razões diversas (Fp. 1.17,18). Na lição de hoje estudaremos a esse respeito, mostraremos que nem todas as motivações do crente, em relação ao seguir a Cristo, são verdadeiras.

1. MOTIVAÇÕES E MOTIVAÇÕES
A palavra motivação, no dicionário, é definida como uma força interna que faz com que as pessoas tomem determinadas decisões e atitudes. As motivações são as mais diversas, e elas, na maioria das vezes, variam de pessoa para pessoa. Existem motivações individuais e coletivas, que persistem e outras que se modificam ao longo do percurso. A motivação sempre tem a ver com objetivos, isto é, com o interesse aonde determinada pessoa ou grupo pretende chegar. Algumas motivações são inatas, como a de conseguir alimento para satisfazer a fome. Mas a maioria delas é adquirida, depende da cultura, e do que as pessoas privilegiam como necessidade. Alguns estudiosos distinguem quatro tipos básicos de necessidades: psicológicas (comer e se vestir), segurança (ordem, estabilidade, rotina), social (amor, afeição, pertencimento), estima (prestígio, independência, status) e autorrealização (emprego e sucesso). Essas motivações são categorizadas a partir de uma perspectiva sociológica, que leva em consideração a relação necessidade e consumo. Mas na perspectiva cristã, existem outras motivações, dentre elas: fé, esperança e amor (I Co. 13. 13; I Ts. 1.3). Os profissionais que atuam na área de marketing são especialistas em identificar as motivações das pessoas. Outra especialidade da propaganda é a de construir necessidades. O consumismo – que não pode ser confundido com consumo - se alimenta da criação de necessidades e motivações.  O cristianismo pode, em alguns contextos, ser comparado a uma mercadoria. Há pessoas que o compram de acordo com suas conveniências, a esse respeito Paulo chamou a atenção do jovem pastor Timóteo e da igreja que este liderava (II Tm. 4.1-4).

2. AS FALSAS MOTIVAÇÕES DO CRENTE
O crescimento do movimento evangélico no Brasil tem favorecido a existência de uma geração de crentes cujas motivações nada têm de bíblicas. Algumas dessas pessoas estão aderindo às igrejas pelos motivos mais diversos e descabidos. A adoção de um modelo evangélico mercantilista, pautado na prosperidade financeira, está atraindo pessoas para as igrejas com interesses meramente monetários. Não são poucas as pessoas que se achegam às igrejas perguntando: o que eu vou ganhar com isso? Os discursos propagados por algumas igrejas televisivas mostram essa realidade. Os adeptos dessa teologia deturpada testemunham da fortuna que fizeram ao adquirir o “produto” de determinada igreja. Há “artistas”, que na verdade nada entendem de arte, que vem para a igreja depois do fracasso na mídia. Como não conseguem mais se projetar na mídia, inventam que são crentes para venderem seus cds gospel entre os evangélicos. As músicas por eles compostas são de péssima qualidade, não passam de vãs repetições, não têm qualquer respaldo bíblico. O culto às celebridades instantâneas e temporárias, decorrentes dos realities shows, também alcançou as igrejas evangélicas. Houve um tempo em que as pessoas eram respeitadas pelo conhecimento bíblico que tinham, e pela vida que testemunhavam. A exposição da Bíblia está sendo substituída, em alguns púlpitos, pelos tristemunhos desses “artistas”. Em entrevista a um canal de televisão, uma modelo (não sei para quem) afirmou que frequentava a igreja porque saia daquele lugar com “alto astral”. As motivações dessas pessoas, ao aderiram a essas igrejas, são meramente utilitaristas. Os “pastores” estão alimentando esse ciclo na medida em que propagam um evangelho que não e o de Jesus Cristo (Gl. 1.9).

3. AS VERDADEIRAS MOTIVAÇÕES DO CRENTE
As motivações verdadeiras do crente são respaldadas pela Palavra de Deus, isso porque é Deus, e não o homem, que diz o que realmente necessitamos. A primeira necessidade do ser humano é a de um Salvador. O salário do pecado é a morte, a condenação eterna (Rm. 6.23), e como todos pecaram (Rm. 3.23), a salvação torna-se uma necessidade prioritária. Deus enviou Seu Filho Jesus Cristo para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo. 3.16). Essa é uma mensagem simples, mas que está sendo esquecida em muitas igrejas evangélicas. O novo nascimento e a santificação tornaram-se doutrinas impopulares, por isso, não são mais ensinadas, é mais vantajoso – principalmente do ponto de vista financeiro - instigar à prosperidade. Mas isso tudo é vaidade, é aflição de espírito, ou como verte uma tradução de Ec. 2.17, é “correr atrás do vento”. A principal motivação do crente deve ser dar glória a Deus, viver para Ele, pois para isso fomos criados (Is. 47.12; I Co. 10.31; Ef. 1.12). A teologia predominante no contexto evangélico brasileiro é antropocêntrica, isto é, coloca o ser humano no centro, ao invés de Deus. O crente não foi chamado para a fama, mas para a simplicidade (Mt. 10.16), a ostentação não é cristã, no evangelho de Cristo não há lugar para soberba (Jo. 13.34,35). O próprio Cristo veio para servir, não para ser servido (Mc. 10.42-45), quem quiser ser o primeiro no Reino de Deus que seja o último (Mt. 20.27). O Reino de Deus está acontecendo, neste exato momento, longe dos holofotes da mídia. Pastores e crentes estão labutando para Deus no anonimato. O discurso do sucesso tem atingido muitos crentes, resultando em uma geração de decepcionados, em virtude das irrealizações. O próprio pastorado, excelente quando levado a sério, não ficou para todos (I Tm. 3.1-7), e alguns crentes, por não conseguirem chegar a essa posição eclesiástica, também se frustram.

CONCLUSÃO
A verdadeira motivação do crente deve ser sempre a de estar com Cristo, a de permanecer nEle, independentemente das circunstâncias, para dar frutos (Jo. 15.1-8). E justamente crescer em santidade, desenvolvendo o fruto do Espírito, deveria ser a meta de todo cristão genuíno (Gl. 5.22). Cristo não prometeu riqueza, fama e poder no presente século. Por isso, a motivação verdadeira do crente deve ser a de continuar no centro da vontade de Deus (Rm. 12.1,2).

Subsídio para o Professor


Dentro do contexto do tema do trimestre, uma das causas das aflições na vida de muitos filhos de Deus nos dias atuais é viver no anonimato, numa sociedade onde cada vez mais é enfatizada a necessidade de “aparecer”, de conquistar poder, fama e prestígio, de atrair para si os holofotes do mundo evangélico, de ser a “estrela” do momento, de se tornar o principal “produto de consumo” no mercado gospel, onde a pregação e adoração fazem parte do show business gospel, e onde o ministério tem se tornado uma atividade meramente profissional, onde pastores-executivos se gabam de suas posses, riquezas e grandeza.
FAMA: PERSPECTIVA BÍBLICA E SECULAR
E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria; e traziam-lhe todos os que padeciam acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos, e ele os curava. (Mt 4.23-24)
E logo correu a sua fama por toda a província da Galileia. (Mc 1.28)
E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca (Lc 4.37)
Porém a sua fama se propagava ainda mais, e ajuntava-se muita gente para o ouvir e para ser por ele curada das suas enfermidades. (Lc 5.15)
As palavras gregas traduzidas por “fama” nos versículos acima são akoe, que significa literalmente “ouvir um relato acerca de fatos acontecidos ou dos feitos de alguém”, e logos, que pode significar “as notícias acerca das realizações de alguém”. Em ambos os casos pode-se utilizar o termo “fama” como tradução, assumindo este um sentido positivo. É assim que podemos entender a fama de Jesus.
Há outros casos onde a ideia de fama num sentido positivo está implícita:
Ora, o SENHOR, disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu será uma bênção. (Gn 12.1-2)
Agora, pois, assim dirás a meu servo, a Davi: Assim diz o SENHOR, dos Exércitos: Eu te tirei do curral, de detrás das ovelhas, para que fosses chefe do meu povo Israel. E estive contigo por toda parte por onde foste, e de diante de ti exterminei todos os teus inimigos, e te fiz, um nome como o nome dos grandes que estão na terra. (1 Cr 17.7-8)
Em seu aspecto bíblico e positivo, a fama tem as seguintes características:
- Não é buscada por aquele que a adquire
- É resultado da ação direta e do plano de Deus na vida daqueles que Ele deseja tornar conhecidos
- Tem a sua razão de ser para a glória de Deus
Em sua perspectiva secular ou mundana, a fama é almejada, buscada e disputada pelo próprio indivíduo, e tem como fim último a sua glória pessoal.
O CRISTÃO NA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
O filósofo e escrito francês Guy Debord, em sua obra A Sociedade do Espetáculo, interpretou de maneira bastante interessante a busca desenfreada pela fama, pelo parecer e aparecer.
Em sua tese, a base da sociedade existente é o espetáculo, ou seja, o aparente, o irreal, o ilusório, uma relação social entre pessoas mediada por imagens. A vida organizada socialmente se fundamenta na simples aparência das coisas.
Na sociedade do espetáculo “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. Dessa forma, todos querem aparecer, ser vistos, ser aceitos e aplaudidos.
Na sociedade do espetáculo o indivíduo não pode ficar “por baixo”, nos bastidores, pois precisa ser visto, aceito e aplaudido. Na sociedade do espetáculo, que já atingiu a igreja evangélica brasileira, é preciso aparentar ser o astro que não se é, ter o sucesso forjado através do pagamento de “ofertas-jabás”. Na sociedade do Espetáculo paga-se para aparecer.
A febre da fama atingiu pregadores e cantores evangélicos. Há no Brasil grandes congressos onde para se cantar e pregar é necessário dar uma “oferta missionária”. Pregadores e cantores pagam a “oferta-jabá”, pois acreditam que após gravarem o seu CD ou DVD no referido evento (ou eventos), vão “bombar”, e com isso terão a garantia de uma agenda bastante rentável.
Algumas empresas literárias e produtoras musicais “evangélicas” já se tornaram fábricas de ídolos, usando de estratégias de marketing para promover os seus contratados, e com isso multiplicar o seu capital, sem nenhuma visão de Reino.
A síndrome da sociedade do espetáculo atinge também pastores, que no afã de aumentar seu prestígio, e de dar demonstrações de seu poderio ministerial, investem milhões de reais na construção de templos suntuosos para a própria glória, deixando com isso de dar prioridade às coisas essenciais no Reino de Deus.
No âmbito da política eclesiástica disputam sem ética alguma, matam e morrem por cargos em Mesas Diretoras e demais posições de prestígio. Buscam o poder pelo poder. Estão interessados em meras demonstrações de força e influência. Como sempre advirto, é preciso evitar em todos os casos o generalismo irresponsável, pois sabemos que ainda há pastores, pregadores, ensinadores e cantores sérios, que em tudo buscam a glória de Deus.

A SEDUÇÃO DO ESPETÁCULO, DA GLÓRIA MUNDANA E DO PODER SECULAR NA TENTAÇÃO DE CRISTO
Satanás intentou frustrar o ministério de Jesus pouco antes do seu início. Para isso ofereceu ao Senhor o mesmo que tem oferecido para os filhos de Deus nos dias atuais, numa tentativa semelhante de frustrar, comprometer e destruir ministérios.
A primeira tentativa de Satanás foi a de fazer com que Jesus fizesse uso dos seus dons e poder sobrenatural em benefício próprio, na medida em que transformasse pedras em pão (Mt 4.3-4).
A segunda investida de Satanás visava exatamente o espetáculo decorrente de um ato extraordinário, que implicava num salto do pináculo do templo, com direito a participação de anjos, mediante a intervenção sobrenatural do Pai (Mt 4.5-6).
Em sua terceira investida, Satanás oferece pode político temporal, e toda a glória humana resultante do mesmo (Mt 4.8-10).
Jesus venceu Satanás pela Palavra, permaneceu fiel aos propósitos do Pai, e com isso teve autoridade para exercer o seu ministério, sem ter do que ser acusado pelo próprio Satanás, nem por homem algum.
Observamos nos dias atuais o fracasso de homens e mulheres que foram levantados por Deus, no início, e até no final de seus ministérios, exatamente pela aceitação daquelas ofertas que Jesus recusou. Foram seduzidos e tragados pela busca da fama e do poder temporal, da efêmera glória do aqui e agora.
VIVENDO NO ANONIMATO PARA A GLÓRIA DE DEUS
No Reino de Deus não é o tanto quanto aparecemos ou deixamos de aparecer que qualifica a nossa vida e ministério, mas a motivação com a qual realizamos a obra de Deus.
A Bíblia e a história é repleta de anônimos que certamente terão seu galardão e reconhecimento na eternidade, concedidos pelas mãos daquele que é justo e verdadeiro (Ap 22.12).
Como exemplo podemos citar a menina israelita que serviu na casa do grande general Sírio Namã (II Reis 5:1-6), as mulheres que doaram seus espelhos quando da confecção da pia de cobre do Tabernáculo em pleno deserto (Êxodo 30:17-21), profetas cujos nomes não são mencionados (1 Rs 13; 20.13-30), os quatro leprosos no episódio do terrível cerco da cidade de Samaria (II Reis7:3-11), a mãe de Rufo (Rm 16.13), os crentes da família de Narciso (Rm 16.11), os irmãos que estavam com Asíncrito, Fleonge, Hermas, Pátrobas e Hermes (Rm 16.14), os santos que estavam com Filólogos, Júlia, Olimpas e a irmã de Nereu (Rm 16. 15), etc..
CONCLUSÃO
Numa cultura secular e evangélica onde o anonimato é quase sinônimo de fracasso, e onde o espaço e a visibilidade midiática são disputados ferrenhamente pelos “astros e estrelas da fé”, é necessário se voltar para a Palavra, e não se conformar com os padrões ou modelos mundanos impostos no presente século (Rm 12.2).
Anônimo ou famoso, conhecido ou desconhecido, viva para a glória de Deus!


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