10 maio 2012

Falsos Pressupostos de Liderança
  
Mesmo reconhecendo que no exercício de liderança as pessoas são livres para crer e praticar o que julgam adequado, quero apontar alguns pressupostos que, à luz da experiência e da ética cristã, me parecem falsos. Às vezes, estes conceitos não fazem parte de um manual de liderança, mas, no coração de algumas pessoas, é o que se tem e, na prática, é o que se vê!
Primeiro: O bom líder é aquele que agrada a todos.
Segundo os melhores especialistas desta matéria não existe nada mais falso do que isso. Pelo contrário, “liderar é a arte de contrariar interesses particulares para se alcançar objetivos gerais ou organizacionais”. Em nenhuma área da vida podemos agradar a todos. Algumas pessoas, na fixação de agradar a todos, têm cometido erros graves e o máximo que tem conseguido são enfermidades psicossomáticas graves.
Segundo: O bom líder é aquele para quem Deus vem em primeiro lugar, a família em segundo, e o ministério (liderança) em terceiro.
Durante séculos esta ordem evoluiu muito. Primeiro se dizia que a ordem era esta: Deus, o ministério e a família; depois: Deus, a família e o ministério. Segundo o ensino paulino, esta não é ainda a ordem perfeita porque falta o elemento de I Tm 4: 16. Paulo diz: “Tem cuidado de ti mesmo... porque fazendo assim salvarás... a ti mesmo.” Então, a ordem bíblica é: Deus, eu, família e ministério. Isto não é egocentrismo ou coisa que o valha, porque nenhum ministro vai conseguir ser bênção para Deus, para a família e para o ministério se não cuidar de si mesmo. Se não sei amar, respeitar, admirar e cuidar de mim mesmo, não conseguirei fazer isso com ninguém. Este é o fundamento de Mt 22:39.
Terceiro: O bom líder é aquele que sabe “valorizar” as pessoas perfeitas.
A dificuldade aqui inicia, justamente, na consideração do que seja perfeição. É um assunto absolutamente relativo e subjetivo. O meu conceito de perfeição pode não coincidir com o que crêem os meus companheiros, subordinados e superiores. Por outro lado, se Jesus, que certamente tinha um conceito correto de perfeição, tivesse agido assim com os seus apóstolos, nenhum teria “sobrevivido” ao fim de Seu ministério. Veja os exemplos de Mt 20: 20-24; Lc 22: 24-30.
Quarto: O bom líder ama os amigos e ignora os adversários.
Estou usando aqui o verbo ignorar mas algumas pessoas usariam “desprezar” e até “destruir”. Feliz ou infelizmente todo líder enfrenta oposição, isso faz parte da vida humana. Em ciências políticas, defende-se que não existe democracia verdadeira sem oposição firme. Só os autocratas, os ditadores e os tiranos não admitem ser contrariados. Não há mal nenhum em um líder ter amigos, Jesus os tinha, no entanto, ignorar e/ou perseguir opositores é prática infame e condenada na Palavra de Deus (Lc 6:23). Se uma pessoa está dizendo a verdade, ainda que isto não me agrade, não pode ser considerada minha inimiga (Gl 4:16). O bom líder, na verdade, procura ver as coisas do ponto de vista de seu opositor.
Quinto: Todo bom líder faz tudo certo e bem o tempo todo.
Esta é uma virtude que só Deus possui: “fazer tudo certo e bem o tempo todo”. O líder honesto e verdadeiro lutará durante todo o tempo por fazer tudo bem, mas, mesmo assim, cometerá erros. A diferença entre o bom e o mau líder, diante de seu erro, é que o primeiro sempre reconhecerá que errou e procurará não repetir, enquanto o outro jamais reconhecerá e, muitas vezes, procurará defender-se apontando para os erros dos outros.
Sexto: O bom líder sempre encontrará a solução para cada problema.
Na maioria das vezes um problema pode ter mais de uma solução possível. A questão a ser considerada é: qual “solução é a mais adequada ou mais produtiva para o momento”. Deve-se considerar, também, a solução que melhor servirá no contexto geral. Eventualmente, um líder poderá errar ao tomar uma decisão sem que isso comprometa toda a sua liderança. Alguns com medo de errar não se arriscam a decidir. Pior do que decidir errado é não decidir nunca!
Sétimo: O bom líder tem sempre a última palavra.
Na liderança compartilhada ou de equipe, como é o caso do ministério cristão, a última palavra poderá surgir dos lábios de um subalterno que pouco aparece, mas que analisa e entende muito. Portanto, dar a última palavra nem sempre é sinal de autoridade, conhecimento e responsabilidade, mas, de vaidade, orgulho e insegurança.
Oitavo: Todo bom líder interpreta espiritualmente todas as coisas para encontrar sempre uma solução espiritual.
O próprio Cristo separou as coisas, tratando as espirituais, espiritualmente; e as naturais, naturalmente. A espiritualização indevida de textos bíblicos, de fenômenos físicos e de fatos da vida pode trazer mais prejuízo do que benefício. Como cidadãos do mundo e do céu, nós temos que viver com os pés na terra e com a mente no céu. Há certas coisas que não têm valor moral ou espiritual e assim devem ser tratadas. Um barulho na noite pode ser um gato no telhado e não um demônio ao vento.
Nono: O bom líder guarda uma boa memória do passado para repetir no presente.
Não há mal em guardar as lições do passado, no entanto, a vida é dinâmica e nos proporciona oportunidades para encontrarmos soluções novas para resolvermos questões antigas e, ainda mais, podemos inovar nos métodos e na forma de fazer as coisas, ainda que mantenhamos os princípios. Nem sempre os métodos antigos ajudam na solução dos problemas, porque as “circunstâncias” mudam e nós também mudamos.
Décimo: Todo bom líder fala e faz o que pensa. Isso é franqueza!
Tiago declarou em sua carta (Tg 3:13) que o sábio e o inteligente demonstram suas qualidades “em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras”. A sua palavra ou a boa atitude, assumida no tempo errado, causará tanto mal quanto a estultice. Portanto, é a sabedoria e o bom senso que devem determinar o que falar, quando falar e como falar do líder.
Décimo primeiro: Todo bom líder evita intimidade com o seu liderado.
Nisso deve haver bom senso. Toda intimidade excessiva é prejudicial em qualquer relação, principalmente quando se confunde intimidade com permissividade. Jesus permitiu, e até procurou, a intimidade de seus discípulos sem que isso significasse perda de sua autoridade e liderança.
Conclusão: A ciência de liderança é inesgotável e ninguém tem a última palavra. O verdadeiro líder está sempre em processo de crescimento e isto inclui o conhecimento do que é verdadeiro e o do que é falso.
Por Bispo David Rodrigues

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