29 abril 2012


O OBREIRO E O NARCISISMO PATOLÓGICO

O narcisismo não é algo necessariamente ruim, desde que enriqueça e complemente o nosso amor pelos outros (Heinz Kohut). Tal conceito se harmoniza perfeitamente com a ideia de amor próprio manifesta em Mateus 22:36-40:
Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.
Nas palavras de Jesus, o amor ao próximo é precedido pelo amor próprio. Quem não se ama, não consegue amar ninguém.
O narcisismo nem sempre é algo bom, podendo manifestar um certo tipo de adoração a si mesmo. Na condição de “obreiros patologicamente narcisistas”, estão incluídos pastores, pregadores e mestres que:
- Usam os outros para se sobressaírem;
- Desejam ser atraentes a qualquer custo;
- Desejam ser importantes a qualquer custo;
- Desejam ser interessantes a qualquer custo;
- Não olham os outros como amigos e companheiros, mas como objetos descartáveis para alcançar seus desejos e saciar suas necessidades narcísicas.
Suas roupas, objetos, gestos, pregações e posturas extravagantes gritam insistentemente e desesperadamente: “Olhem para mim!”.
O obreiro patologicamente narcisista manifesta em seus atos a falta de autenticidade, de valor próprio e de uma autoimagem positiva e resistente.
O obreiro patologicamente narcisista é interiormente apático, vazio e incompleto.
O obreiro patologicamente narcisista se considera o centro do universo, em torno do qual todas as coisas orbitam.
O obreiro patologicamente narcisista se julga o maior de todos. Ele é grande demais aos próprios olhos.
O obreiro patologicamente narcisista é um contador de vantagens, um senhor sabe tudo, alguém muito especial.
Ao pensar em um sucessor para o seu narcísico ministério, o obreiro patologicamente narcisista diz: “Que tal Deus?”.
(Texto adaptado dos conceitos de narcisismo expostos na obra “Perdas Necessárias”, de Judith Viorst)
Jundiaí-SP, 23/04


O Ministério Evangélico Narcisista e Metrosexual

"Narcisismo descreve a característica de personalidade de paixão por si mesmo.
A palavra é derivada da Mitologia Grega. Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente o desejava. Como punição, foi amaldiçoado de forma a apaixonar-se incontrolavelmente por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de levar a termos sua paixão, Narciso suicidou-se por afogamento." (Fonte: wikipédia)
Qualquer correspondência com fatos da vida real, principalmente os que envolvem em especial pastores, pregadores e ensinadores evangélicos da atualidade, não é mera coincidência.

Há muitos nos "palcos da fé", se afogando em caprichos, excessos de vaidade, paixão e culto a si mesmos. É o Ministério Evangélico Narcisista em plena atividade, e com tanta força, ao ponto de influenciar a criação de outro ministério cristão evangélico, o MinistérioEvangélico Metrosexual.

O ministro metrosexual é aquele que valoriza excessivamente a aparência, não se preocupando com o que os outros pensam ou falam ao seu respeito. Gasta muito tempo e dinheiro em clínicas de beleza, fazendo a unha, tratando da pele, dando um "grau" na sobrancelha, cuidando do cabelo (com direito a tintura, chapinha e tudo mais).

O ministro "metro", não dispensa de forma alguma, quando necessário, uma boa lipoaspiração, nem uma cirurgia estética corretora.

É um assíduo frequentador de academias e investe pesado em cremes, perfumes e shapoos. Na hora de se arrumar (principalmente para pregar) não dispensa uma boa maquiagem, um brilho nos lábios, um lápis nos olhos, aquele toque nos cílios, e uma bela lente de contato.

Seu vestuário é um verdadeiro show. Tons vivos, vibrantes, berrantes, "chegueis" e cintilantes, são a sua marca registrada.

Os sapatos são bicolores, tricolores e multicores. Quanto mais brilhosos, melhor (ops, tenho um preto verniz!).

Recebi a informação, de que o Ministério Evangélico Narcisista (MEN) e o MinistérioEvangélico Metrosexual (MEM) estão credenciando novos obreiros e ministros. Trata-se de entidades evangélicas interdenominacionais, sem nenhuma dificuldade em receber ministros das várias confissões e tendências teológicas (tradicionais, históricos, reformados, pentecostais, neopentecostais, ultrapentecostais, etc.)

Calma, não estou julgando ninguém pela aparência, mas apenas relatando os fatos.

PREGAÇÃO, DESEJO E MOTIVO: UM ALERTA PARA OS JOVENS PREGADORES NUMA CULTURA NARCÍSICA E NA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO


Narciso (1594-1596), por Caravaggio.

"Com frequência, tem acontecido que alguns jovens com determinados dons, ao ouvirem um grande pregador, sentem-se cativados por ele e pelo que ele está fazendo. Ficam atraídos por sua personalidade ou por sua eloquência, deixam-se comover por ele e, insconscientemente, começam a sentir o desejo de ser semelhantes a ele e de fazer o que ele está fazendo. Ora, isso pode estar certo, mas pode estar inteiramente errado. Os jovens podem ficar fascinados somente pelo encanto da pregação, atraídos pela ideia de ministrarem a Palavra a audiências e de influenciá-las. Todas as formas de motivos falsos e errôneos podem se instroduzir sorrateiramente. A maneira de nos precavermos desse perigo é perguntar-nos: por que desejo fazer isso? Por que estou preocupado com isso? E, a menos que descubramos um interesse genuíno pelas pessoas, pelo seu estado e condição e tenhamos desejo de ajudá-las, estaremos corretos em duvidar de nossos motivos." (D. Martyn Lloyd-Jones)

O texto acima foi publicado originalmente em 1972, na obra intitulada Preaching and Preachers, traduzida para o português sob o título "Pregação e Pregadores", pela Editora Fiel. Apesar dos trinta e oito anos passados desde a sua primeira publicação, ele se mantém indiscutivelmente atualizado.

Há na atualidade, de formar clara, o risco de muitos jovens desejarem seguir carreira como pregadores, motivados pelos aspectos estéticos da pregação, e pela sensação de poder que ela provoca. Como bem colocou Lloyde-Jones, o interesse genuíno em ajudar as pessoas é que deve ser a razão central, o motivo único deste desejo.

Uma outra questão cabe aqui ser abordada. Muitos pregadores na atualidade, estão influenciando negativamente os mais jovens, pelo fato de que os motivos que o levaram ao ministério da pregação, terem uma relação direta e estarem sob a influência da chamada cultura do narcisismo e da sociedade do espetáculo.

Narciso, de onde se deriva o termo narcisismo, segundo a mitologia grego-romana, era um jovem de incomparável beleza. Ele pensava, em razão disto, ser semelhante a um deus. Como resultado de seus pensamentos, Narciso rejeitou a afeição de Eco, uma bela jovem até que esta, desesperada, definhou, deixando apenas um sussurro débil e melancólico. Para dar uma lição ao rapaz frívolo, a deusa Némesis condenou Narciso a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo na lagoa de Eco. Encantado pela sua própria beleza, Narciso deitou-se no banco do rio e definhou, olhando-se na água e se embelezando. Outras versões dizem que enquanto caminhava pelos jardins de Eco, ele descobriu a lagoa de Eco e viu o seu reflexo na água. Apaixonando-se profundamente por si próprio, inclinou-se cada vez mais para o seu reflexo na água, acabando por cair na lagoa e se afogar.

A conceito de cultura do narcisismo, pode ser compreendido através da breve exposição sobre o tema, feita pela Dra. Ana Almeida em seu blog:

"A sociedade actual estimula a cultura do narcisismo. Cada vez mais competimos de forma acirrada por um “lugar ao sol” num mundo em que impera a lei do mais capaz e do sucesso ou da aparência dele. As exigências de sucesso provocam um enorme desgaste. As pessoas sentem-se obrigadass e a ultrapassarem a qualquer custo as suas limitações.
 Instala-se um conflito entre o “eu idealizado” e o “eu real” que nos leva a desenvolvermos a crença de que valemos mais pelo que temos ou aparentamos ser do que pelo que realmente somos. A ânsia de reconhecimento faz com que a aparência tenha um enorme valor; quando somos confrontados com a diferença entre aquilo que pretendemos ser e aquilo que somos verdadeiramente a nossa auto-estima sofre, e esta diminuição da auto-estima torna-nos vulneráveis à depressão."Sobre a sociedade do espetáculo, e comentando a obra A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, José Arbex Jr. escreveu no livro Showrnalismo: a notícia como espetáculo (Editora Casa Amarela, São Paulo, 2001):"O espetáculo – diz Debord – consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida"
Como bem coloca Joel Birman no livro Mal-estar na atualidade: A psicanálise e as novas formas de subjetividade, a cultura do narcisismo e a sociedade do espetáculo enfatizam a exterioridade e o autocentramento. Dessa forma, em se tratando de pregação e pregadores, o motivo e o desejo ficam comprometidos, visto que as necessidades do outro deixam de ser relevantes e de terem primazia, na mesma proporção em que as necessidades do próprio sujeito, norteadas pelo pensamento, sentimento e desejo narcísico, mediante o exibicionismo espetacular, ganham exclusividade.
O outro se torna objeto de mero usufruto do sujeito narcísico, lhe servindo apenas como instrumento para o incremento da auto-imagem, mediante a manipulação através dos meios de comunicação de massa, e de uma forte ênfase na estetização da pregação, em detrimento do legítimo, salutar e bíblico propósito da pregação, e da verdadeira e bíblica razão de ser e fazer do pregador.
Apesar do triste e atual quadro, percebo mudanças no cenário evangélico nacional, onde vislumbro a restauração da verdadeira pregação bíblica, realizada por pregadores santos e vocacionados por Deus para esta privilegiada missão, movidos pelos mais nobres e excelentes motivos, e desejosos de proporcionar o bem maior ao seu próximo, ou seja, a sua salvação, libertação, restauração, transformação, edificação, consolação e exortação, tendo como base e fundamento a Bíblia Sagrada

Pr.Altairgermano


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