QUEBRANDO PARADIGMAS DA PREGAÇÃO PENTECOSTAL CONTEMPORÂNEA
Em todas as épocas a exposição bíblica sofreu influência do seu contexto imediato. Quando Jesus ensinava nas sinagogas seguia o modelo e o estilo vigentes (Lc 4.16.21). Não foi diferente com Pedro no dia de Pentecostes (At 2.1-36), com Paulo em Atenas (At 17.2231), nem com qualquer outro grande pregador da história da igreja.
Não há nada de errado no fato de pregadores adotarem um estilo contemporâneo no ato de expor a Palavra, desde que o referente estilo não fira alguns princípios ministeriais, espirituais, éticos e morais da vida cristã.
O meu desejo é que este texto promova algumas reflexões e transformações sobre a crise na pregação vivenciada no seio do pentecostalismo brasileiro, de forma mais especifica, nas Assembleias de Deus no Brasil, a maior denominação pentecostal de nosso país.
DIRETO AO PONTO: OS SINTOMAS
Passarei a narrar experiências vividas que me provocaram, e que ainda me provocam algumas preocupações com a formação de uma nova geração de pregadores.
Cheguei para ministrar numa Escola Bíblica de Obreiros numa cidade do interior de São Paulo, e logo fui conduzido ao hotel por um obreiro que cuidaria de meu traslado. Ao buscar-me para o culto, aquele obreiro perguntou-me se as instalações estavam boas. Respondi que sim, e que não tinha nada que reclamar. Para minha surpresa, aquele obreiro informou-me que ao conduzir certo pregador para o mesmo hotel onde fiquei, foi indagado pelo mesmo se era naquela “espelunca” que ficaria hospedado. O hotel, onde frequentemente os pregadores e mestres ficam hospedados, podem acreditar, oferece as condições necessárias para trabalho e repouso.
Numa outra igreja, quando retornava do evento para o aeroporto, o obreiro que me dava assistência perguntou-me se a oferta que recebi estava a contento, o que de pronto respondi que sim. Deus conhecia as minhas necessidades e as condições da igreja que me convidara. Diante de minha resposta fui informado que ao receber igual oferta, um outro preletor afirmou que a mesma não condizia com o sua “estirpe”, estando muito abaixo do seu “nível”.
Aqui em Pernambuco, um pregador já costumeiramente convidado por certa igreja, sempre adotou, e ainda adota uma postura arrogante, e por que não dizer profissional. Sempre com um mau humor crônico, o referido pregador costuma tratar com indiferença os irmãos que lhe dão assistência, onde nem um “muito obrigado” sobra para os mesmos. Geralmente, após terminar o seu compromisso, vai embora com a mesma arrogância que sempre chega. Ao ser questionado certa vez sobre a postura deste pregador, o pastor que sempre o convida respondeu: - isso é negócio de pregador, não devemos nos importar! É claro que não concordei esta afirmativa. Para mim, caráter e carisma devem andar juntos. Não pode haver dicotomia entre a vida do pregador e do mestre no púlpito, de sua vida fora dele.
Estive em Alagoas faz pouco tempo, e o pastor de um campo me disse que ao convidar um preletor para um congresso de jovens, o tal preletor lhe perguntou se a mensagem seria do tipo avivada, se era para pregar sobre batismo com o Espírito Santo, sobre cura, etc., pois o “cachê” que cobraria dependeria daquilo que o pastor desejaria para o congresso.
Recebi certa vez a ligação de um pregador, que me pediu informações sobre a igreja em que pregaria. Ele queria saber se a mesma era do tipo “avivada” ou do tipo “reflexiva”. Quando questionei sobre o motivo de estar querendo tais informações, o pregador me disse que era para adequar o seu estilo de pregação com o da igreja, pois desta forma garantiria novas agendas e o seu retorno naquele lugar.
Depois de pregar para um grande e “seleto” público, ao sentar-se do meu lado, o preletor me perguntou: - Fui bem? Fiquei a pensar no sentido de sua pergunta, e entendi que o que ele queria saber era sobre a suaperformance, e não sobre a eficácia da mensagem pregada.
OS PARADIGMAS EQUIVOCADOS DA PREGAÇÃO PENTECOSTAL ASSEMBLEIANA CONTEMPORÂNEA
Diante dos relatos aqui citados, e de outros que poderiam ser aqui expostos, temos a clareza de que os paradigmas que norteiam boa parte da pregação e do ensino pentecostal na atualidade estão fundamentos nos seguintes pressupostos:
- No profissionalismo ministerial. Para muitos pregadores e ensinadores o que importa é “dar o recado” e receber o pagamento por isso.
- No estrelismo ministerial. Nunca o desejo pela fama foi tão buscado por pregadores e ensinadores. O princípio do “importa que Ele (Jesus) cresça e que eu diminua” nunca foi tão negligenciado.
- No exibicionismo ministerial. A performance, ou o desempenho artístico na pregação contemporânea, com todos os seus “truques” de oratória, deixaria envergonhado o mais notável sofista (mestre na arte de persuadir por meio da palavra oralizada).
- No mecanicismo ministerial. Há pregadores e ensinadores tão mecanizados em seus ministérios, que não oram mais pela iluminação do Espírito sobre os seus estudos e preparo de mensagens. Contentam-se com alimentos enlatados e congelados, que de acordo com a conveniência são abertos e aquecidos nos fornos de microondas da razão, das técnicas e do cinismo na pregação e no ensino da Palavra.
A LIDERANÇA PENTECOSTAL ASSEMBLEIANA DIANTE DOS PARADIGMAS EQUIVOCADOS DA PREGAÇÃO PENTECOSTAL CONTEMPORÂNEA
Esta é a parte mais delicada deste breve texto, pois nada disto estaria acontecendo, e com tanta frequência (pois eliminar totalmente tais paradigmas é algo praticamente impossível), se não fosse pela conivência de alguns pastores e líderes pentecostais assembleianos da atualidade.
Quando confrontados com esta realidade, para tentar justificar a gravidade de suas ações, alegam somente se rendendo aos paradigmas aqui expostos é que conseguem manter os “cultos” atrativos e a “casa cheia”, e com isso levantar boas ofertas para pagar os altos aluguéis e compromissos da igreja. Fico assombrado com argumentações deste tipo.
Tenho perguntado em algumas Escolas Bíblicas para Obreiros, e também em conversas pessoais, que tipo de pregadores e ensinadores queremos formar nas novas gerações. Se quisermos resgatar a pregação e o ensino bíblicos, se desejarmos formar pregadores e ensinadores que em tudo glorifiquem a Deus é preciso uma tomada de consciência que promova uma mudança de paradigmas, e que consequentemente produza uma nova atitude diante da realidade nua e crua aqui exposta.
Qual o legado e herança que estamos deixando para os nossos jovens obreiros?
Qual o futuro que estamos traçando para as Assembleias de Deus no Brasil?
Como a presente geração de obreiros pentecostais assembleianos será lembrada na história?
Permaneceremos ignorando os nossos desvios da Palavra quanto à pregação e ensino, ou para ela nos voltaremos urgentemente e arrependidos?
Manteremos o silêncio “oficial” total ou parcial sobre tais questões, ou assumiremos de fato a nossa responsabilidade institucional, que em nada deve ser desassociada de nossa responsabilidade ministerial, espiritual, ética e moral?
Romperemos com os paradigmas que prevalecem hoje na pregação e no ensino pentecostal assembleiano, ou seremos seus perpetuadores?
A decisão nos pertence, e precisa ser tomada agora!
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